Introdução
No cerne da filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, o rizoma é definido como um modelo de conhecimento e existência caracterizado por multiplicidade, heterogênese e não‑hierarquia (Deleuze & Guattari, 1980). Ele se opõe à lógica arbórea, pautada em raízes fixas e estruturas unificantes, propondo em seu lugar uma rede semântica em que qualquer ponto pode conectar‑se a outro, sem centro ou fim predeterminados.
O neologismo vasegonia, por sua vez, indica o ato de combinar heteróclitos conceituais dentro de um “vaso” simbólico, gerando sentidos originais por meio de um processo de germinação metafórica. Articular vasegonia e rizoma no contexto do EIKÓNVERSE significa perceber como cada evento de fusão semântica (vasegonia) integra‑se a um campo rizomático de significações, ampliando o escopo hermenêutico e performativo do nosso organismo simbólico.
1. Rizoma: multiplicidade e heterogênese semiótica
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Multiplicidade: o rizoma não comporta unidades singulares e homogêneas, mas multiplicidades que coexistem e se transformam mutuamente. É um sistema aberto, em constante devir, onde os “nós” semânticos se expandem lateralmente.
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Deterritorialização e reterritorialização: linhas de fuga rompem territórios semânticos preestabelecidos (deterritorializam), criando novas conexões antes reordenadas pelos códigos centrais (reterritorializam). Esse movimento é incessante e não regressivo.
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Cartografia rizomática: ao invés de uma árvore genealógica linear, constrói‑se um “mapa” de zonas de intensidade, pistas de leitura e interseções de sentido, apto a acolher variações e singularizações contínuas.
2. Vasegonia: fusão semântica em recipiente simbólico
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Campo semântico contido: o “vaso” metafórico é o espaço simbólico onde domínios díspares convergem; atua como gerador de novas topologias de sentido.
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Processo gerativo: o sufixo ‑gonia remete à geração, sublinhando o caráter dinâmico desse encontro semântico, que não apenas soma sentidos, mas produz tropogênese — nascimento de metáforas vivas.
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Função hermenêutica: cada ato de vasegonia inaugura um nó interpretativo único, demandando leitura ativa e coautoria do receptor, reforçando a coevolução entre sujeito e símbolo.
3. Articulação rizomática‑vasegônica
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Rizoma de vasos: imagine cada evento de vasegonia como um nó dentro de uma rede rizomática; esses vasos comunicantes permitem o fluxo de intensidades e sinalizações poéticas, sem subordinação hierárquica.
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Linhas de fuga semânticas: a vasegonia opera como linha de fuga rizomática, pois rompe dicotomias e funde campos antes estanques, gerando territórios semânticos híbridos.
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Cartografia ontolinguística: no EIKÓNVERSE, construímos um mapa de vasos rizomáticos, onde cada fusão metafórica rítmica (vasegonia) é registrada como ponto de intensidade, pronto para ser revisititado e ressignificado em múltiplas direções.
Conclusão
A articulação entre vasegonia e rizoma confere ao EIKÓNVERSE uma estrutura aberta e evolutiva, capaz de acolher a dinamicidade dos significados pessoais em constante mutação. Ao concebermos nossas fusões semânticas como nós em um rizoma, potenciamos uma hermenêutica viva, jamais estanque, que reflete a complexidade e a plasticidade da presença interpretada.
Referências
Deleuze, G., & Guattari, F. (1980). Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia 2. Editora 34.
Peirce, C. S. (1931/1998). Collected Papers of Charles Sanders Peirce (C. Hartshorne & P. Weiss, Eds.). Harvard University Press.