A imagem pública como construção social transitória

A imagem pública como construção social transitória

Introdução

A imagem pública é um constructo social em constante metamorfose, sustentado por convenções, expectativas e ritos performativos. Erving Goffman (1959/2005) cunha o conceito de “performance do eu”, descrevendo como o indivíduo maneja impressões através de fachadas — conjuntos de gestos, roupas, vozes e posturas. Essa transitividade revela que a imagem não é essência fixa, mas uma máscara dinâmica, simultaneamente construída pelo ator e validada pelo público.

No EIKÓNVERSE, compreende‑se que essa face social emerge da interação entre átomos simbólicos — gestos, metáforas e narrativas — que se combinam em ritual linguageiro. A hipérbole, por exemplo, intensifica atributos desejados (“sou imbatível”), enquanto o eufemismo suaviza ameaças (“enfrento desafios” em vez de “luto”). Essas figuras retóricas atuam como moduladores semânticos, calibrando a recepção social e preservando a coesão simbólica.

Além disso, a transitividade da imagem pública é marcada pela presença de elipses estratégicas, que autorizam a coautoria do espectador. Ao omitir detalhes, o consulente convida o público a preencher lacunas com projeções desejadas, garantindo flexibilidade interpretativa e potencializando a resiliência identitária.

1. Rito de passagem performático

Victor Turner (1969) descreve o rito de passagem como sequência de separação, transição e reintegração, aplicável também ao campo da imagem pública. Cada aparição — discurso, evento ou entrevista — constitui um limiar simbólico, no qual o consulente desempenha papéis prescritos. A figura da graduação, crescendo gradualmente na intensidade do discurso, funciona como compasso ritual, conduzindo a audiência do reconhecimento inicial até o clímax interpretativo.

No palco social, a hipérbole atua como efeito teatral, magnificando virtudes e criando aura de exemplaridade. Essa intensificação retórica, quando bem dosada, eleva a imagem transitória a estandarte simbólico, ainda que temporário. O EIKÓNVERSE orienta o consulente a calibrar esses ritos para que a performance permaneça autêntica, evitando dissonâncias que fragilizem o ethos.

Por fim, a elipse e o paradoxo entram em cena no limiar de transição: a omissão de informações estratégicas e a contraposição de ideias antitéticas (paradoxo) reforçam o mistério e provocam a curiosidade do público, elementos essenciais para manter a atenção e o envolvimento simbólico.

2. Eufemismos e gestão de face

Em Goffman (1959/2005), a gestão de face refere-se aos esforços para manter a própria imagem diante de possíveis ameaças. O eufemismo, figura de palavra que substitui termos desagradáveis por outros mais amenos, emerge como ferramenta preferencial nesse processo. Ao dizer “readequação de recursos” em vez de “corte de pessoal”, o consulente minimiza resistências e preserva a coesão simbólica do grupo.

Além disso, a litote — expressão que intensifica por meio da negação do contrário — pode reforçar virtudes sem expor fragilidades (“não sou impreciso” implica competência e rigor). Esses dispositivos garantem uma gestão de impressões sofisticada, na qual a linguagem opera como mecanismo de modulação afetivo‑cognitiva.

O EIKÓNVERSE recomenda a utilização criteriosa dessas figuras, balanceando transparência e resguardo, de modo a sustentar uma imagem pública consistente, ética e resiliente.

3. Elipse e insinuação estratégica

A elipse deliberada — supressão de elementos textuais — cria vácuos interpretativos nos quais o público se engaja ativamente. Esse preenchimento colaborativo amplia o investimento emocional e cognitivo do receptor, convertendo-o em coautor da narrativa simbólica.

Paralelamente, a pregunta retórica serve como insinuação que direciona a reflexão sem exigir resposta explícita, funcionando como gatilho interpretativo: “Quem não deseja um líder confiante?” convoca adesão sem confrontar opositores diretamente. Essa combinação de elipse e pregunta retórica intensifica o engajamento e reforça a transitividade.

No EIKÓNVERSE, tais estratégias são ensinadas como partitura de ausências e sugestões, permitindo ao consulente orquestrar a recepção de sua imagem pública de forma refinada e participativa.

Conclusão

Reconhecer a imagem pública como construção social transitória habilita o consulente do EIKÓNVERSE a exercer uma gestão simbólica de sua presença, alinhando ritos performáticos, figuras retóricas e estratégias de elipse para criar uma narrativa coerente e resiliente. Ao dominar esses recursos, o indivíduo não apenas faz‑se ver, mas faz‑se significar, consolidando uma presença autêntica e ecoante no cenário social.


Referências
Goffman, E. (1959/2005). A apresentação do eu na vida cotidiana. LTC.
Merleau‑Ponty, M. (1945/2002). Fenomenologia da percepção (C. F. L. Dayan, Trad.). Martins Fontes.
Peirce, C. S. (1931/1998). Collected Papers of Charles Sanders Peirce (C. Hartshorne & P. Weiss, Eds.). Harvard University Press.
Ricoeur, P. (2005). A metáfora viva. Loyola.
Turner, V. (1969). The Ritual Process: Structure and Anti‑Structure. Aldine.

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